JACOB JR, MY JEWISH WORLD. JACOB, KAFKA E PRAGUE III


Shalom! World.
O sobrenome Kafka deriva do nome judeu Jacob, trata-se de um nome que se origina no dialeto askhenazi ou no dialeto baixo-alemão cujo significado original é o diminutivo de Jacob (Jakobchen). O nome tradicional de Hermann Kafka seria, portanto, algo como Heymann Chaim Ben Jakob. (Hartmut Binder: Kafka Handbuch, vol. 1: Der Mensc und seine Zeit. Stuttgart, 1979, p.111).
Kafka compunha em parábolas. Recordemos a aldeia ao pé do castelo, onde K. recebe a confirmação misteriosa e inesperada de sua suposta designação como agrimensor. A aldeia mencionada numa lenda talmúdica, narrada por um rabino em resposta à pergunta: por que os judeus preparam um banquete na noite de sexta-feira? Ela conta de uma princesa exilada, longe dos seus compatriotas, que definha numa aldeia cuja língua ela não compreende.
Um dia ela recebe uma carta do seu noivo, anunciando que este não a tinha esquecido e que estava a caminho para revê-la. O noivo, diz o rabino, é o Messias, a princesa, a alma, e a aldeia em que se encontra exilada é o corpo. Ignorando a língua falada na aldeia, seu único meio para comunicar-lhe a alegria que sente é preparar para ela uma festa. Essa aldeia talmúdica está no centro do mundo kafkiano.
O homem de hoje vive em seu corpo como K. no vilarejo ao pé do castelo: ele lhe escapa e é hostil. Pode ocorrer que o homem acorde um dia transformado em uma criatura abjeta. O estrangeiro, o seu estrangeiro, apoderou-se dele. É o ar dessa aldeia que sopra no mundo de Kafka.
Kafka  descende de Kierkegaard e de Pascal; podemos considerá-lo o único descendente legítimo desses dois filósofos. Os três partem, com a mesma dureza sanguinária e implacável, do mesmo tema religioso de base: o homem nunca tem razão em face de D'us. O mundo superior de Kafka, O castelo, com seus funcionários imprevisíveis, mesquinhos, complicados, seu estranho Céu, joga com os homens um jogo tenebroso e ainda assim, mesmo diante desse D'us o homem permanece em profunda injustiça.  
Em O castelo se lê: "Pode um só funcionário perdoar? No máximo, a administração como um todo poderia fazê-lo, mas provavelmente ela não pode perdoar, e sim julgar, apenas". É mais fácil extrair conclusões especulativas das notas póstumas de Kafka do que investigar um único dos motivos que aparecem em seus contos e romances. No entanto somente estes podem lançar alguma luz sobre as forças arcaicas que atravessam a obra de Kafka, forças que com igual justificação poderíamos identificar no mundo contemporâneo.
Quem poderá dizer sob que nome essas forças apareceram ao próprio Kafka? O que é certo é que ele não soube orientar-se nelas. Não as conheceu. Ele apenas viu, no espelho da culpa que o mundo primitivo lhe arpesentou, o futuro, sob a forma de julgamento. Como representá-lo? Seria o julgamento final? O juiz não se converte em acusado? A punição não está no próprio processo? Kafka não respondeu a essas perguntas. Veria alguma utilidade nelas? Ou julgava preferível adiá-las? Nas narrativas que ele nos deixou, a epopeia recuperou a significaçlão que lhe dera Scherazade: adiar o que estava por vir. O adiantamento é em O processo a esperança dos acusados, se apenas o procedimento judicial não se transformasse gradualmente na própria sentença. O adiamento beneficiaria até mesmo o Patriarca, mesmo que para isso deva renunciar ao papel que lhe cabe na tradição.
"Posso imaginar um outro Abraão, que não chegaria evidentemente à condição de Patriarca, nem sequer à de negociante de roupas usadas, que se disporia a cumprir a exigência do sacrifício, solícito como um garçom, mas que não consumaria esse sacrifício, porque seus negócios lhe impõem obrigações, porque há sempre alguma coisa a arrumar, porque a casa não está pronta, e sem que ela esteja pronta, sem o seu apoio não pode sair, como a própria Toráh admite, quando diz "ele pôs em ordem sua casa".
Abraão aparece obsequioso como um garçom. Havia algo que Kafka podia fixar somente pelo gesto. É esse gesto, que ele não compreeendia, que constitui o elemento nebuloso de suas parábolas. É dele que parte a obra literária de Kafka. Sabe-se como ele era reticente com relação a essa obra. Em seu testamento, ordenou que ela fosse destruida. Esse testamento, que nenhum estudo sobre Kafka pode ignorar, mostra que o autor não estava satisfeito com sua obra; que ele considerava seus esforços malogrados; que ele se incluía a si próprio entre os que estavam condenados ao fracasso.
Fracassada foi sua grandiosa tentativa de transformar a literatura em doutrina, devolvendo-lhe, sob a forma de parábolas, a consistência e a austeridade, as únicas que lhe convinham, à luz da razão.
 Nenhum escritor seguiu tão rigorosamente o preceito de não construir imagens. "Era como se a vergonha devesse lhe sobreviver", são as palavras que encerram O processo. A vergonha, que nele corresponde à "pureza elementar dos sentimentos", é o mais forte gesto de Kafka. Ela tem, porém, uma dupla face. A vergonha é ao mesmo tempo uma reação íntima do indivíduo e uma reação socialmente exigida. A vergonha não é apenas perante os outros, mas pode também ser vergonha pelos outros. A vergonha de Kafka é tão pouco pessoal quanto a vida e o pensamento que ela determina e sobre os quais Kafka escreveu: "Ele não vive por causa de sua vida pessoal, nem pensa por causa do seu pensamento pessoal. Tudo se passa como se ele vivesse e pensasse sob o peso de uma obrigação familiar. Por causa dessa família desconhecida ele não pode ser despedido".
Não conhecemos a composição dessa família desconhecida, constituida por homens e animais. Só uma coisa é clara: é ela que o força, ao escrever, a movimentar períodos cósmicos. Para Kafka, crer no progresso não significa crer que o progresso já aconteceu. Isso não seria uma crença. A época em que vive não representa para Kafka nenhum progresso com relação aos primórdios. Seus romances passam-se num mundo pantanoso.
O fato de que esse estágio esteja esquecido não significa que ele não se manifeste no presente. Ao contrário, é esse esquecimento que o torna presente. Ele é descoberto por uma experiência mais profunda que a do homem comum.
Willy Haas interpreta, com razão, a trama de O processo, dizendo que "o objeto desse processo, o verdaeiro herói desse livro inacreditável, é o esquecimento, cujo principal atributo é o de esqucer-se a si mesmo.
Ele transformou-se em personagem mudo na figura do acusado, figura da mais grandiosa intensidade" Não podemos afastar de todo a hipótese de que esse "centro misterioso" derive da "religião judaica". A memória enquanto piedade desempenha aqui um papel sumamente misterioso. É um atributo de Adonai, até mesmo o mais profundo, que ele se recorda, que conserva uma memória infalível até a terceira e quarta geração até a centésima geração; o ato mais sacrossanto do ritual é o apagamento dos pecados do livro da memória.
Mas o esquecimento , e aqui atingimos um novo limiar na obra de Kafka, não é nunca um esquecimento meramente individual. Tudo o que é esquecido se mescla a conteúdos esquecidos do mundo primitivo, estabelece com ele vínculos numerosos, incertos, cambiantes, para gerar criações sempre novas. O esquecimento é o receptáculo a partir do qual emergem à luz do dia os contornos do inesgotável mundo intermediário, nas narrativas de Kafka.
Viver é entregar-mo-nos à justiça e a porta da justiça é o estudo. Mas Kafka não se atreve a associar a esse estudo as promessas que a tradição associa no estudo da Toráh.

Suporte Cultural: SOUL e L'Integration d'Association avec Israel et dans le Mond/Fr

Shalom! Aleichem.

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