JACOB JR. MY JEWISH WORLD. ENDINGEN-LENGNAU. JEWISH FRIEDHOF/GUGGENHEIM. SWITZERLAND


Shalom! World.

Tuesday, Adar II 16, 5774 · March 18, 2014


Ao construir este texto sobre um assunto tão distante do público, mas que significa tanto para mim, percebo que as minhas entranhas se contorcem pelas lembranças de cada passo que dei, do planejamento, percorrer milhares de quilômetros até chegar no norte da Suíça.  Este projeto foi motivado com um sentimento de respeito e conservação também da minha própria história. Assim espero que se explique porque fiz questão de fazer o trajeto entre as duas vilas pela estrada, caminhando, eu e meu D'us!
Entrada da vila de Endingen/Switzerland
Entrada da vila de Lengnau/Switzerland
Endingen e Lengnau são duas vilas, e estão situadas na região (cantão) de Aargau (norte da Switzerland) e próximas da fronteira com a Alemanha. Poucas famílias de origem Judaica viveram lá durante a Idade Média, quando as vilas pertenciam ao cantão de Baden, contudo as comunidades organizadas não foram formadas antes do início do século XVII.  Por volta de 1650, Marharam (Meir) Guggenheim era o seu líder.

Endingen/Switzerland
Lengnau/Switzerland
O status jurídico dos Judeus estava baseado em Cartas de proteção, as quais deviam ser renovadas (e pagas) periodicamente. Desde 1696 estas Cartas eram renovadas a cada ciclo de 16 anos, sendo a última se deu em 1792. As Cartas autorizava-os a comercializarem em toda a região de Baden, mas não em todo o reino, mas na maior parte do território que eles estavam engajados com o comércio de vendas pecuária. Eles foram autorizados a lidar com empréstimos, contudo só poderiam ser aceitas garantias destes empréstimos se fossem móveis. O número de residências Judaicas eram limitadas e não era permitida e co-existência de um Judeu com uma "não Judia" (goyn) sobre o mesmo teto. Os Judeus eram submetidos ao meirinho (cobrador de impostos), porém podiam recorrer aos seus rabinos em relação a temas civis e religiosos.


Endingen - Synagogue
Lengnau - Synagogue
Em 1776 a Carta de proteção limitou as residências Judias no Cantão de Baden apenas na vizinhança de Endingen e Lengnau. Eram 20 residentes Judeus em toda a região por volta do ano de 1634, crescendo para 35 em 1702, 94 em 1761, 108 em 1774, e alcançando 240 em 1890.

Um cemitério foi arrendado pelos Judeus em 1603 numa pequena ilha no rio Reno, chamado de Judenaeule ou Judeninsel. Em 1750 eles foram permitidos a adquirirem outro cemitério (Waldfriedhof), situado entre as duas vilas.

No mesmo ano uma Synagogue permanente foi erguida em Lengnau (a qual nunca teve uma igreja), e Endingen em 1764; ambas as comunidades compartilhavam os serviços de um único rabino. As Synagogues foram reconstruídas em 1848 e 1852 respectivamente, mantendo as atuais fachadas.


A Revolução Francesa e a formação da República Helvética não proporcionou aos Judeus de Endingen e Lengnau a sua emancipação civil e política. Porém, a lei de 1798 proporcionou que alcançassem o status de ser um povo aliado da república. A França permitiu em 1803, que a população cristã dos distritos, saqueassem as residências Judias, como já havia acontecido em 1792 e repetiu-se em 1861.  A legislação que tratava dos Judeus em 1809 foi um retrocesso, assim como foram as Leis de 1824 (Organisationsgesetz) e de 1835 (Schulgesetz) levaram ao aumento da interferência na autonomia das comunidades, as quais já tinham alcançado o status legal de corporações públicas.

A luta pela igualdade de direitos continuou e só foi completamente alcançado em 1878. O movimento da Reforma Protestante levou a acentuar as controversas dentro das comunidades, mas a maioria manteve-se fiel a tradição Judaica.

A população Judaica em Endingen e Lengnau era composta em torno 1500 membros em 1850, decresceu para menos de 100 em 1950, em 1962 chegou a 17 membros. A Casa de Apoio aos Judeus Suiços Idosos foi estabelecida em Lengnau em 1903, sob patrocínio da família Guggenheim.

A família Guggenheim.

A história das vilas de Endingen e Lengnau se mistura com a família Guggenheim. É um costume do Judeus derivarem seus sobrenomes por nomes dos locais que vivam em virtude da dificuldade que os nomes hebraicos possuem por serem de difíceis pronúncias. Os Guggenheims provavelmente formaram seu sobrenome no século XVII, durante a Guerra dos Trinta Anos, de Gougenheim, na Alsácia, onde provavelmente os primeiros Guggenheims surgiram. O primeiro registro dos Guggenheim em Lengnau data do início de 1696.
 A vida nas duas vilas agrícolas era difícil para os Judeus já que a agricultura, era uma das atividades profissionais que era proibida. O único meio de sobrevivência era vendendo coisas usadas e bem simples. Mesmo assim eles tinham de observar uma série de restrições, como por exemplo: pagar uma taxa a cada vez que vendiam algo ou mesmo quando cruzavam as fronteiras dos Cantões, uma exorbitante taxa para se casarem, os enterros num cemitério próprio era proibido, como também a posse da propriedade e o número de famílias era limitado a 108, portanto os Judeus frequentemente esperavam anos para que a corte autorizasse a formação de uma nova família.

Ainda hoje, as casas com duas portas na entrada são características do cenário urbano de Lengnau e Endingen: uma entrada para os cristãos e outra separada para os Judeus. Judeus e cristãos tinham de entrar em suas casas por distintas soleiras. Se, por um acaso, um Judeu não ganhasse um pouco de dinheiro, ele seria taxado de volta a pobreza. Mas, no entanto, as duas comunidades eram autônomas e eram permitidas a administrarem seus assuntos internos. Eles cobravam suas próprias taxas para cobrirem as necessidades das comunidades e inclusive a assistência aos pobres, manutenção da escola e das atividades religiosas.

Os Guggenheims estavam entre as mais ativas famílias. Em 1702, Jacob Guggenheim de Lengnau, um dos ancestrais de Peggy Guggenheim, foi processado por ter adquirido um vinhedo em Wettingen sem permissão. Um ano depois, sua casa foi queimada em represália.              

Jacob Guggenheim
O mesmo Jacob Guggenheim foi uma destacável liderança em Lengnau. Em 1732, quando os Judeus eram ameaçados com a expulsão da região de Aargau, as 250 famílias do vale escolheram Jacob para representa-los frente ao governante em Zurich. Jacob foi brilhante em seu discurso, contudo não adiantou, pois as taxas cobradas sobre os Judeus foram elevadas. Joseph Guggenheim, um dos filhos de Jacob foi convencido a se converter ao cristianismo pelo líder protestante de Zurich, Johann Caspar Ulrich. Este fato provocou uma terrível confrontação entre os Judeus e os cristãos, inclusive dentro do ambiente da imprensa.
No início do século XIX, a Suíça passou por uma severa crise econômica, como consequência da ocupação napoleônica. O comércio, o qual para os Judeus era a atividade vital, estagnou completamente. "O assentamento, carregava as faces magras dos pobres  que provocavam um pesadelo aos humanistas". escreveu um contemporâneo. A miséria Judaica era fruto de uma política persecutória, apesar de uma momentânea redução das taxas especiais que os Judeus eram obrigados a pagar a Lei Judaica de 1809, criada pelo Cantão de Aargau aboliu todos os direitos dos Judeus. Um outro episódio ilustra estes tempos duros, em 1818, Samuel Guggenheim de Lengnau ariscou sua vida ao salvar duas crianças de um incêndio. Guggenheim recusou uma recompensa pelo seu ato, porém solicitou a permissão para usar a área destruída para comercializar os seus produtos, entretanto foi sumariamente recusada.

Isaac, outro filho do bravo e renomado Jacob Guggenheim alcançou um modesto grau de prosperidade. Ele tinha oito crianças do seu primeiro casamento, entre eles Simon. A mulher de Simon faleceu em 1836 e ele criou seu filho Meyer e suas cinco filhas sozinho. Mais tarde ele se uniu a Rachel Weil, uma viúva mãe de três meninos e quatro meninas. As autoridades de Lengnau recusaram a autorização para o casamento deles.   


John Simon Guggenheim
Então, não restou a Simon e Rachel reunirem seus pertences  e emigrarem com seus filhos. Na Suíça existiam rumores de que existia uma nação de pouco mais de 50 anos de formação, os Estados Unidos da América, onde não existiam ghettos e discriminação.

Em 1847, ano no qual a nova Synagoga de Lengnau foi consagrada e um ano antes da fundação da Confederação Suíça, Simon Guggenheim (55 anos de idade) e Rachel (41 anos de idade) emigraram com suas crianças: 13 crianças! A jornada através do Atlântico, partindo de Hamburgo para a Filadélfia levou dois meses. Simon e Rachel compartilharam a sua fé com milhares de outros Judeus suíços que se dirigiram a América com tanta ânsia. Do universo limitado da Europa Central para a Filadélfia: o contraste dificilmente poderia ter sido maior. O novo mundo foi mais impressionante do que qualquer habitante suíço poderia ter imaginado. Grande parte da América ainda não havia sido ocupada. Os vastos campos, florestas intocadas, as grandes montanhas e as cidades grandes e novas impressionavam os visitantes europeus. A Filadélfia já era uma das mais atraentes e tolerantes regiões. Nos Estados Unidos a Corrida pelo Ouro tinha começado. Apenas algumas das famílias americanas de sucesso tinham despontado num universo onde os Astors, Du Ponts e Vanderbilts, já eram expoentes. O dinâmico crescimento dos Guggenheim no meio do mercado têxtil, mineração e indústria de aço e finalmente como patronos internacionais é uma nova história - incrível e inacreditável, uma história rara de sucesso jamais vista.  

Solomon Guggenheim
Benjamin Guggenheim
O que se seguiu  foi que Simon Guggenheim, que emigrou para a América, tinha um filho, Meyer Guggenheim. Meyer casou-se e produziu oito meninos e meninas, incluindo os célebres patronos das artes: Solomon Guggenheim e Benjamin, o qual foi o pai de Peggy Guggenheim. Benjamin Guggenheim faleceu no naufrágio do Titanic.
A questão é: qual é a conexão entre a história de enriquecimento dos Guggenheim com a pequena vila suíça de Lengnau nos séculos XVIII e XIX? Minha resposta é que o confinamento, as dificuldades vividas no ghetto de Aargau teriam produzido a concentração de força e uma tremenda vitalidade que inflamou a família Guggenheim por gerações. Esta incrível história de sucesso destes indivíduos, provava aos Judeus e ao mundo, que os Judeus poderiam ascender socialmente como qualquer outro povo caso possuíssem uma chance.
Peggy Guggenheim
Para os Guggenheim isto não era apenas um problema de fazer dinheiro. O sucesso financeiro em primeiro lugar tornou-os um exemplo possível de um compromisso cultural e social. A lembrança de seus ancestrais confinados e vivendo em precárias condições em sua antiga terra (Suíça)  sem dúvidas teve um destacado papel sobre a sua história. Isto é demonstrado pelo fato dos Guggeheims jamais esquecerem as sua origens no Cantão de Aargau.


Em 1902, 55 anos após seu avô ter emigrado 112 anos atrás, o pai de Peggy Guggenheim e seu tio doaram uma elevada soma de dinheiro para o financiamento de uma fundação que cuidasse de uma Casa de Apoio aos Judeus Idosos em Lengnau.


Museu Guggenheim New York
Hoje em dia, não existe mais o ghetto nas vilas de Endingen e Lengnau. No início do século XIX, os Judeus suíços iniciaram a sua defesa e passo a passo, abriram as portas do ghetto. Em 1866, os Judeus tiveram sua liberdade garantida com o estabelecimento de direitos e lentamente se espalhou por outras regiões.
Museu Guggenheim Veneza
Os ghettos de Endingen e Lengnau desaparecerão após 150 anos quando no fim do século XIX, a Suíça seguindo o exemplo de outros países, garantiram absolutos direitos civis aos Judeus.
Embora a história dos judeus desde a época romana tenha sido de perseguição, expulsão e discriminação, os judeus suíços foram poupados do destino de milhões de judeus  da Europa: a deportação.
Shalom! Aleichem.

Suporte cultural:  L'Integration d'Association avec Israel et dans le Monde/Fr .
 

 

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